Um buscador que acabou a sua busca quando se encontrou.
Este mesmo começo de livro poderá conduzir-te a uma deceção tal, que talvez deixes de lê-lo já que vou contar as minhas primeiras experiências como vagabundo espiritual. Enfim, uma busca destinada à morte. Contarei como iniciei esta viagem e o que descobri no caminho da busca de mim mesmo. Com este relato, talvez possas compreender muitos aspetos da tua busca e que tal, te ajude a encontrar aquilo que estás à procura. Porém, tem sempre em conta que uma vez, encontrado, deverás deixar de procurar.
Começarei pelo final, quer dizer, com o mais importante que encontrei. Começo por aí porque quero desde já dizer que se o que encontrei não é o que procuras, então não à necessidade que percas o teu tempo a ler este livro. Quem sabe, estejas à procura de soluções mágicas, respostas poderosas, terapias milagrosas, medicinas magistrais ou ideias inovadoras e, se é isso que procuras quero que saibas que é muito lícita a tua busca. No entanto, a minha é atrevida, arriscada e audaz porque me levou muito além de tudo isso. Isto não significa que seja mais que tu, apenas que pude chegar mais além e é possível que te inspire a fazer o mesmo.
Quero prevenir e antecipar que se conectas com o espirito da minha busca, encontrar-te-ás com algo que provavelmente, não desejas encontrar. Quem sabe, não desejes até encontrar-te mas se te encontras, acaba-se o ciclo de buscar por buscar.
A minha busca permitiu-me encontrar o único, o mais importante, o princípio e o fim. Isto acabou com todas as perguntas, todas as queixas e me fez-me responsavelmente feliz para sempre… encontrei-me a mim mesmo..
Em mim, encontrei tudo. Descobri o meu poder, libertei a minha sabedoria, assumi a minha responsabilidade, recuperei a capacidade de decidir e assumi forças para manter as minhas decisões. Não obstante, confiei nas minhas decisões, confiei na minha existência e deixei-me fluir. Com isso permiti-me escolher os caminhos. Estes mesmos caminhos de despejaram, as portas abriram-se, as possibilidades libertaram-se e nunca mais necessitei de uma bússola, um guia ou um mestre que me dissesse o que devo fazer. Encontrarmo-nos é encontrar o único mestre, por este motivo é que, ao encontrar-me a mim mesmo, acabo com todas as buscas desnecessárias.
Na minha vida, já não admito juízos, queixas, desculpas, críticas, nem protestos de como são as coisas, os factos, as pessoas. Para mim, não existe o como deveria ser, simplesmente são.
No entanto, tenho de reconhecer de reconhecer que isto era o que procurava inicialmente. A minha procura não era nada clara, era uma forma de distração, de fuga e de crença que alguém faria algo por mim. Acontece que num momento desta busca infrutuosa, o buscador cansado, meditou e percebeu que era ele mesmo o procurado. Quem sabe, neste momento, ainda que não saibas bem o que procuras, possas encontrar o que não esperavas. Por este motivo, quero que saibas que quando a busca sai de um coração valente, que não teme, cuja alma em que se inicia deseja liberdade, uma alma que ama a vida; se o impulso é a coragem de um menino aventureiro que adora investigar… então essa procura levar-te-á muito longe, muito além do que imaginaste. Não importa onde, como, com o quê ou com quem o fazes, porque o farás. Esta procura vai levar-te até ao único destino possível: TU MESMO.
Como começa a procura
Tudo começou quando comecei a dar-me conta de que tudo o que tinha e fazia, não me realizavam. As coisas não me satisfaziam no mais profundo de mim. Fui a muitos sítios, li imensos livros, procurava em pessoas e situações, em países e culturas, em religiões e filosofias, em seminários e terapias, em trabalho, família, amigos e até, no materialismo. E já agora, porque não no prazer e na luxúria, no pensar, no fazer e no sentimento de inclusão… Procurava sem saber bem o quê, mas não me importava, continuava. Até que um dia, percebi o que procurava, o objeto da minha busca.
Como afirma Osho: “Um homem converte-se num buscador, no momento em que se apercebe que a existência mundana não pode ser tudo o que existe”
O buscador que existe em mim, realmente, nasceu no dia em que percebi que o que procurava não estava onde eu pensei que estaria. Relativizei a importância das coisas mundanas ou materiais e fui consciente de que havia mais do que aquilo que me era conhecido. Então, a minha procura direcionou-se e de forma inalterável durante 20 anos. Demorei muito tempo a encontrar-me, dei muitas voltas. Mas tive de converter-me num vagabundo espiritual.
Para encontrar o que não se encontra em outras formas de procura, é necessário sair do conhecido. A procura no desconhecido exige sair dos esquemas pré-estabelecidos. No desconhecido, não se pode aplicar métodos conhecidos, não se pode ser livre numa linha de pensamento, enraizado a uma religião, escravizado em crenças ou fanatismos, ancorados a uma forma única de pensamento. A primeira exigência é ser um vagabundo espiritual.
Un vagabundo não é um mendigo, um pede esmolas. Um vagabundo tem autossuficiência para viajar e deambular, é alguém a quem ninguém o pode prender a nada, não admite apegos mundanos, sabe que nenhum sítio é definitivo e reconhece o caminho em si mesmo como uma meta.
Um vagabundo espiritual é alguém que sabe que esse caminho nunca acaba mas poderá suceder algo, um dia, que lhe permita encontrar o que deseja, no fundo do seu coração e ai, deixa de vagabundear.
Um vagabundo espiritual confia que encontrará o que quer que cesse a sua busca. Não sabe onde, nem quando, nem porquê nas sabe que o caminho trará a resposta, a solução.
O encontro sucederá.
O que inicialmente procurava estava muito além daquilo para o qual estava preparado. Procurava algo profundo, mas buscava à superfície. Eu não compatível com a minha própria busca e esse foi o primeiro conflito que surgiu. O buscador tem de aprofundar, caso contrário, não encontrará o que deseja. Não é o mesmo que fazer passeios turísticos ou escavações arqueológicas. Não é o mesmo que pintar paredes ou remediar a humidade. Primeiramente, é essencial preparar o autor da procura, torna-lo forte, paciente, perseverante, sereno, atento, confiante livre, amoroso, aberto, fluido, constante e atrevido. Se estes valores não estiverem presentes nada que seja procurado poderá ser encontrado. Assim, preparei a minha própria tática de busca.
Diz Buda: “Uma vez que compreendas que estás perdido e que terás de abrir o teu próprio caminho, sem qualquer tipo de ajuda, então tornar-te-ás responsável”
Sabia que orar, pedir, rezar é de um responsável. Depositar a confiança fora é coisa de irresponsáveis. Por isso, centrei-me em mim e, apenas em mim. Percorri uma e outra vez os meus próprios recursos e assim preparei-me.
A minha preparação foi muito profunda e simples, ao mesmo tempo. A ideia que sempre me acompanhou foi de que estava perdido, sozinho e que nada me poderia salvar além de mim mesmo. Tudo dependeria dos meus recursos e da minha confiança na existência.
Por esta razão, hoje posso afirmar que sou o MESTRE QUE NÃO ADMITE DISCÍPULOS. A quota de discípulos está esgotada. Apenas aceito eu mesmo e essa quota preenchi-a eu mesmo. Sou o mestre e o discípulo; eu dou e recebo, pergunto e respondo, busco e encontro. Portanto, não lugar para mais discípulos e não mais procuras de mestres. Eu sigo-me a mim mesmo, não é mestres fora de mim.
Sugiro, para poupar o teu tempo, dinheiro e esforço que também busques dentro de ti mesmo o teu próprio mestre. Desta forma, deixarás de depender dos outros, para tomar as tuas decisões. Tu és o melhor especialista de ti próprio e nada o poderá fazer por ti. Jesus disse: “Vem e segue-me…” Isso foi dito por quase todos os mestres durante milhares de anos e com isto, tentam guiar-te e ajudar-te. Porém, a minha mensagem é diferente, não sou mestre de ninguém além de mim e a mensagem que quero partilhar é: “Vê e segue-te”. És o único do qual jamais poderás escapar, és o único que tens, és quem traz contigo tudo o que poderá fazer-te feliz, és o princípio e o fim. Não há nada além de ti e tudo o que está fora é algo que produzes dentro de ti.
Orienta a tua busca para ti, dentro de ti, não fora. O vagabundo espiritual está em ti, ativa-o, confia nele, é esse o teu guia que te conduzirá nesta viagem de sabedoria. Permite-te ser o condutor de ti mesmo, selvagem, puro e divino. Relaxa e desfruta a viagem. O vagabundo saberá onde ir e o que fazer. Levar-te-á onde queres ir, não discutas os caminhos, não te preocupes com a velocidade, nem com o perigo por onde passarás. Deixa-te ir em paz, não interfiras.
O vagabundo espiritual é essa parte de ti que tem a solução e as respostas mas, necessita andar no caminho da vida. Desta forma poderás apreciar o caminho percorrido, as paisagens que vês como fonte original das tuas mudanças. Os teus olhos vão dar-te as visões que precisas mas também terás de lavá-los, abri-los, bem grandes e tirar os óculos. Certo dia, chegarás a ver-te.